quinta-feira, 20 de maio de 2010

MARLEY E EU COM ISSO?

No início do século passado, quando eu estudava a produção de saliva em cães expostos a diversos tipos de estímulo (Lassie, Gisele e Scooby-Doo), notei que, com o tempo, a salivação passava a ocorrer diante do que antes não causava tal reação. Por exemplo, só de ouvir meu assistente caminhar, a cachorrada já começava a babar.

Então passei a fazer experiências simples como segurar um pedaço de pão e mostrar ao cachorro antes que ele o comesse. Após alguns dias, o cachorro passou a salivar toda vez que via o pedaço de pão. Depois, sofistiquei o experimento. Alimentei cães ao som de uma música qualquer. Posteriormente, salivaram só de ouvir a música. Funcionou até com a Celine Dion cantando My Heart Will Go On. Naquela época não havia tanta vigilância da sociedade protetora dos animais.

Assim surgiu a teoria do reflexo condicionado que abriu caminhos no desenvolvimento da psicologia comportamental.

Entusiasmado, achei que meus estudos teriam ampla aplicação no tratamento de fobias ou no condicionamento de crianças para comer brócolis. Nada disso. Minhas ideias foram colocadas em prática mesmo nos comerciais de cerveja. Não fico triste com isso. O que me deixa pasmo é ver como as coisas se inverteram de lá pra cá. Hoje são os cachorros que estão condicionando os humanos. As evidências são fartas. Pra começar o número de Pet Shops em breve ultrapassará o de supermercados. Algo que não faz nenhum sentido. Não importa o quão ruim está o tempo, pode estar nevando, caindo um temporal ou fazendo um calor daqueles, que esses seres irracionais conduzem seus cansados "proprietários" a passear na rua e os submetem a recolher suas necessidades das calçadas. Alguns animais mais capacitados estão induzindo seus “donos” a serem chamados de filhos e se chamarem a si mesmos de papai e mamãe. Mesmo com a natural dificuldade de digitar com as patas, não são poucos os perfis desses quadrúpedes no Facebook e no Orkut. Vários já não dormem mais na área de serviço e sim em confortáveis camas na companhia de seus “pais”. Em breve assistiremos humanos buscando o osso e dando a patinha. Daí o homem será o melhor amigo do cachorro.